quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Educação em xeque


Peço licença para atualizar a célebre frase de Darcy Ribeiro, "A crise da Educação em São Paulo não é uma crise; é um projeto". De fato, não é possível entender a atual situação da educação pública em nosso estado sem ter em mente que a realidade encontrada nas escolas estaduais é produto de um projeto de desmonte e sucateamento que vem sendo implementado no estado há mais de 20 anos.
É nesse contexto de crise planejada e permanente das escolas estaduais que se encaixa o atual projeto de "reorganização" escolar apresentado pelo governador Alckmin. Com esse projeto, 311 mil jovens serão afetados no estado de São Paulo e 94 escolas serão fechadas a partir do ano que vem, isso sem levar em conta as várias salas de aula que deixarão de existir.
O resultado desta nova política educacional em nosso estado será mais do mesmo: salas de aula ainda mais lotadas, dificuldade de acesso às unidades escolares por alunos que moram distantes dos centros urbanos, aumento da evasão escolar e o aumento do número de professores incapazes de lecionar.
É bom destacar também que (segundo dados do IBGE de 2010) mesmo sendo o estado mais rico da federação, temos 2,9% de nossos jovens entre 7 e 14 anos fora da escola; ficamos atrás de estados como Paraíba, Sergipe e Piauí, os quais possuem IDH (índice de desenvolvimento humano) muito menor do que o estado de São Paulo.
Já segundo a ONG Todos Pela Educação, nosso estado concentra o maior número absoluto de crianças entre 4 e 17 anos fora da escola, totalizando 575 mil.
Com a atual reorganização, esses números tendem a piorar e a evasão do Ensino Médio aumentar, pois muitos alunos precisarão se deslocar ainda mais para chegar a escola, sem contar nos alunos que ficarão sem transporte garantido para estudar.
Como já foi dito acima, esse sucateamento da escola pública não é de hoje, já vem sendo implantado como um projeto por sucessivos governos do PSDB em nada comprometidos com a educação, cuja única resposta aos educadores é a truculência e as balas de borracha da tropa de choque.
Obviamente que este desmonte da educação é acompanhado do apoio de quem lucra com isso: um dos maiores apoiadores do governo Alckmin é o grupo Abril, o qual comprou em 2010 o sistema Anglo, fazendo da Abril Educação uma das maiores exploradores do mercado de ensino privado.
Não a toa, o governador Alckmin destina milhões de reais do dinheiro público para o grupo Abril na forma de publicidade do governo todos os anos.
Diante desta realidade, cabe a sociedade colocar a educação como prioridade para construir um país mais justo e igualitário, abrindo caminho para seu desenvolvimento. Como disse Paulo Freire, "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda".
Cabe saber se os paneleiros que se orgulham de xingar a presidenta dos adjetivos mais machistas e nojentos possíveis, estarão dispostos a bater panelas também contra aquele que condena os filhos dos pobres e trabalhadores a um futuro onde a Educação e o conhecimento não tem espaço.

Tobias Gasparini, é morador de Amparo e professor da rede estadual.